China: potência biológica global ou não?

Por Renee Targos

À medida que órgãos reguladores governamentais proíbem produtos químicos sintéticos e o financiamento está sendo despejado em iniciativas globais de agricultura regenerativa, essa mudança está levando as empresas chinesas de proteção de cultivos a diversificar portfólios para atender às necessidades dos produtores. Essa mudança para produtos biológicos também é apoiada pela ênfase do governo chinês em metas de sustentabilidade.

“A China vem acelerando seus produtos biológicos há muitos anos. Eles estão se movendo muito rápido”, diz Peter Chalmers, sócio sênior da Accumont, uma empresa de consultoria em tecnologia agrícola e biológica. “Onde você vê regiões onde a regulamentação permite que empresas biológicas entrem no mercado, você vê crescimento em produtos biológicos. Essa entrada no mercado permite que as empresas obtenham conhecimento. Uma vez que uma empresa constrói uma base de experiência, ela pode levar isso para outros países.”

Empresas como a Rainbow Agro estão oferecendo produtos biológicos junto com produtos de proteção de cultivos. Um porta-voz da Rainbow Agro diz que o lançamento de produtos biológicos da empresa exigiu “adaptabilidade, inovação e alinhamento”. A empresa desenvolveu uma abordagem diferente para criar, vender e produzir produtos.

“Soluções biológicas exigem uma abordagem fundamentalmente diferente, transitando de um modelo centrado no produto para um centrado no produtor. Entender as necessidades, os desafios e as experiências dos produtores se torna mais crítico do que nunca, superando o foco tradicionalmente colocado na proteção convencional de cultivos”, diz o porta-voz da Rainbow Agro. “O capital humano desempenha um papel fundamental nessa transformação. Seja em P&D, inovação ou equipes técnicas e de vendas locais, estar mais próximo das realidades dos produtores é essencial para garantir o sucesso.”

Uma potência biológica

Os maiores pontos fortes dos fabricantes de proteção de cultivos da China estão em suas capacidades de produção e cadeias de suprimentos, além das décadas de lições aprendidas no mercado químico.

“Eles potencialmente poderiam ser uma potência global em produtos biológicos”, diz Chalmers. “O mercado químico da China, que se desenvolveu nos últimos 20 ou 30 anos, levou a China à posição em que está agora. Eles podem trazer esse conhecimento do que aconteceu no espaço da química e aplicá-lo ao espaço biológico.”

Entretanto, alguns dos desafios dos produtos biológicos produzidos em massa, especialmente para micróbios que precisam de fermentação, é a dificuldade de escalabilidade.

“Acho que a grande questão para os biológicos, a menos que seja um produto natural ou um componente químico específico do sistema biológico, é que é um organismo”, diz Chalmers. “Cada organismo é diferente. Não existem produtos biológicos genéricos. Cada cepa é ligeiramente diferente. Um Bacillus thuringiensis (Bt.) da China será diferente do Bt. dos EUA. Não é como o glifosato. As cepas Bt. têm propriedades, atividades e resultados diferentes. É muito mais complicado, o que significa que precisa haver inovação e diferenciação.”

O porta-voz da Rainbow BIO diz que está realizando “inovações escaláveis” por meio de sua plataforma Innovation Hub. O Innovation Hub amplifica a comunicação e une “parceiros estratégicos, especialistas técnicos e equipes especializadas em P&D, gerenciamento de portfólio e marketing” para que possa resolver problemas e soluções para entender as necessidades dos produtores e adaptar produtos para diferentes mercados.

Boom dos bioestimulantes

A multinacional agroquímica global Syngenta entrou no setor de bioestimulantes por meio da aquisição da Valagro em 2020 e financiou P&D em seu Centro de Pesquisa do Solo em Stein, Suíça, e em seu Centro de Pesquisa em Saúde do Solo LaSalle, em Weld Country, Colorado, EUA. A empresa anunciou recentemente uma colaboração com a TraitSeq, uma empresa de inteligência artificial, para o desenvolvimento de bioestimulantes.

Empresas chinesas, como a Sino-Agri, oferecem produtos de proteção de cultivos e começaram a expandir seu portfólio com bioestimulantes há alguns anos. A Sino-Agri introduziu mais de 10 bioestimulantes e produtos de nutrição de cultivos da Itália e da Espanha. No futuro, a empresa planeja introduzir bioestimulantes e produtos de nutrição de cultivos de países como França, Canadá e Turquia.

“À medida que as práticas agrícolas da China se adaptam às mudanças nas condições ambientais, os bioestimulantes surgiram como uma solução de insumo verde e segura, impulsionando a crescente demanda do mercado”, diz Baiji Huang, gerente geral da Sino-Agri Leading Bioscience Co., Ltd.

Huang continua, “A pesquisa estima que o mercado chinês de bioestimulantes atingirá 2,5 bilhões de RMB em 2024, com uma taxa de crescimento anual composta excedendo 15%. Olhando para o futuro, os avanços em biotecnologia e tecnologia química devem diversificar os produtos e funcionalidades dos bioestimulantes, atendendo às necessidades de várias culturas e estágios de crescimento, acelerando ainda mais a expansão do mercado.”

Produtos Futuros

Com empresas chinesas investindo em produtos biológicos, Chalmers vê grande potencial em produtos futuros. “A China tem uma série de produtos em termos de inovação que não foram adotados fora da China”, diz Chalmers. “Acho que essa é a grande oportunidade. Há algumas coisas políticas acontecendo com as eleições recentes que podem causar complicações. Mas, a longo prazo, acho que todos deveriam ficar de olho na China. Eles são muito ativos no espaço biológico. Eles são muito ativos no novo espaço de IA química também. Então, há oportunidades para as empresas que são ágeis e flexíveis.”

Piyatida “Tung” Pukclai: knoell