Fusões e Aquisições: A Proeminência do Brasil
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Por André Dias
Diretor Executivo LATAM, Kynetec
A América Latina continua a ser um player importante para fusões e aquisições (M&As) do agronegócio. Como um dos mercados mais importantes da América Latina, acompanhar a atividade de M&A do Brasil ocorrendo na última década é crucial para entender a região.
Processo de consolidação de insumos agrícolas
A atividade de fusões e aquisições de multinacionais, como Monsanto/Bayer, Adama/Syngenta e Dow/Dupont, impactou as indústrias brasileiras de insumos agrícolas. Enquanto o foco global era frequentemente mais em torno da expansão do portfólio, as discussões locais se concentravam na organização de distribuição e vendas, bem como no posicionamento do produto.
Após a primeira onda de consolidação global, impactando principalmente o mercado de proteção de cultivos, a atividade de consolidação está acontecendo em mercados muito fragmentados, como fertilizantes líquidos e biológicos, como Syngenta/Valagro, Corteva/Stoller e ICL/Fertilaqua/Compass Minerals. Ao contrário da indústria química de proteção de cultivos, que tem um mercado consolidado mais alto, ainda há espaço para consolidação nos mercados de biológicos e fertilizantes líquidos. Considerando que, após o atual período de recessão que o agronegócio está vivenciando no Brasil, mais M&As devem ser esperadas.
Fusões e aquisições em cadeia de distribuição
O movimento brasileiro de fusões e aquisições no setor de agronegócio começou com a consolidação da cadeia de valor. Como na imagem abaixo, desde 2016, tivemos a primeira onda de consolidação do negócio de distribuição varejista com a entrada de importantes fundos de private equity. O primeiro alvo foram empresas que, na época, tinham uma receita anual maior que R$ 400 milhões somente em vendas de insumos agrícolas e uma receita total de mais de um bilhão de reais considerando o negócio de comércio de grãos. De 2018 a 2020, vivenciamos a segunda onda de fusões e aquisições com alvos menores, de R$ 200 a 400 milhões de vendas de insumos agrícolas. Por fim, a terceira onda de consolidação do movimento de private equity no negócio de distribuição ocorreu em 2021-2022, em alvos com receita de aproximadamente R$ 150 milhões anuais.
Estratégia Genérica Entrada de Private Equity por meio de aquisições

Vendas anuais da Aginput
Nutrientes
Ao mesmo tempo, a partir de 2017, vimos a entrada de um importante player no mercado varejista agrícola no Brasil, o gigante canadense Nutrien. A Nutrien iniciou uma forte atividade de aquisição, consolidando também o mercado varejista no Brasil, com uma significativa aquisição varejista brasileira da Casa do Adubo Nutrien em 2022 por BRL 1,5 Bi.
Indústrias de insumos agrícolas como estratégia de entrada no mercado
O mercado varejista brasileiro também experimentou a entrada de empresas multinacionais de insumos agrícolas adquirindo varejistas e integrando verticalmente seus negócios na cadeia de valor. Agora, as empresas de proteção de cultivos têm seu próprio varejista. Por exemplo, a UPL e a BUNGE investiram na Sinagro, a Ihara com sua holding da Terra Agro e a Syngenta implementando lojas próprias greenfield e adquirindo muitos varejistas como a Agro Jangada e a Dipagro para construir sua plataforma SINAP.
Movimento de comerciantes em busca da origem dos grãos
Outro segmento que mostra atividade de M&A na cadeia de valor brasileira incluiu traders globais. Com o progresso da Trading Cofco chinesa, vimos, por exemplo, a proeminência da Bunge adquirindo players varejistas de escambo como Agrofel, Alvorada e Sinagro agindo para garantir o acesso à originação de grãos.
O que vem a seguir?
2023 foi um ano difícil para o varejo agrícola e negócios de insumos agrícolas no Brasil. Para distribuição, um mercado que tem trabalhado na última década com margens muito reduzidas sentiu o impacto negativo dos altos níveis de estoque e oscilação negativa de preços, afetando seu desempenho geral. A indústria é impactada pelos resultados em sua cadeia de distribuição.
O movimento de M&A vai se tornar menos expressivo nos próximos anos? Mesmo que as margens sejam reduzidas e a eficiência operacional seja melhorada, o mercado de distribuição brasileiro ainda é um mercado altamente fragmentado. Há espaço significativo para consolidação.
Longe de terminar, as fusões e aquisições no espaço agrícola brasileiro devem continuar a progredir nos próximos anos. Compras de private equity de varejistas menores ocorrerão, mas não tão valorizadas quanto nos anos anteriores. As empresas ainda estão buscando melhores resultados para ganhar escala e as fusões e aquisições provavelmente serão sua escolha preferida, pois a operação greenfield exige muito mais esforço e expertise.
Paralelamente a isso, após cinco a oito anos de entrada privada no mercado de distribuição, todo o mercado está esperando que a tese de saída seja consolidada. À medida que a economia evolui gradualmente, devemos esperar que novas fusões e aquisições aconteçam em breve. Possivelmente de um player da indústria (proteção de cultivos ou trader) adquirindo uma plataforma varejista brasileira previamente investida por um private equity, ou mesmo um novo investidor estratégico trazendo capital estrangeiro para o mercado brasileiro.
Uma situação semelhante pode ser esperada, considerando os mercados de produtos biológicos, bioestimulantes e fertilizantes líquidos, ainda há espaço para novas atividades e consolidação. Além disso, espera-se que o mercado biológico se beneficie da tese ambiental, social e de governança corporativa (EST) que ele carrega. As empresas químicas de proteção de cultivos serão mais atraídas para esse segmento, e private equity com viés sustentável também devem realizar algumas aquisições.
Com um cenário mais estável em termos econômicos e políticos, o agronegócio brasileiro em 2024 deve ser um ano de recuperação, com leve avanço na atividade de M&As. •
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André Dias – Kynetec