Coronatina: um regulador de crescimento vegetal de última geração para resiliência ao estresse
A agricultura global está sob crescente pressão devido às mudanças climáticas. A seca, a salinidade e os extremos de temperatura ameaçam a estabilidade da produtividade nos principais sistemas de cultivo. Os agricultores buscam ferramentas que não apenas aumentem a produtividade em condições ideais, mas também ajudem as culturas a resistir a estresses quando as condições estão longe de ser perfeitas.
Neste contexto, coronatina surgiu como uma inovação promissora. Derivada do metabolismo microbiano, a coronatina é um metabólito natural funcional que atua como um novo regulador de crescimento vegetal (PGR). Apresenta forte potencial para aumentar a resiliência das plantas sob condições de estresse abiótico, tornando-se um complemento valioso aos bioestimulantes e ferramentas de proteção de cultivos existentes.
Base científica
Coronatina como um imitador de jasmonato
A coronatina (COR) é composta por duas frações estruturais distintas: ácido coronâmico (CMA), que contém um α-aminoácido, e ácido coronafácico (CFA), um componente derivado de um policetídeo. Essas duas subunidades estão ligadas por uma ligação amida. Estudos recentes revelaram que a estrutura química do COR se assemelha à dos jasmonatos (JA) e pode mimetizar diversas funções dos JA. A atividade biológica do COR puro é de 100 a 10.000 vezes mais forte do que a do JA ou do metil jasmonato (Me-JA) (Greulich et al., 1995). O efeito do COR nas plantas apresenta uma resposta dose-dependente: promove o crescimento das plantas em baixas concentrações, enquanto inibe o crescimento em concentrações mais altas.
Mecanismo de ação da coronatina
O mecanismo molecular envolve a entrada do COR nos tecidos vegetais e a indução da proteína F-box CORONATINE INSENSITIVE 1 (COI1) a se aproximar do complexo JAZ, levando à ubiquitinação das proteínas JAZ e subsequente degradação pelo proteassoma 26S. A JAZ é um repressor transcricional crítico que inibe a expressão de genes responsivos a JA a jusante. Quando a JAZ é degradada, os genes responsivos a JA são ativados (Baker, 2010). Além de ativar a transdução do sinal de JA, a coronatina também regula a interação entre múltiplas vias de sinalização em plantas, incluindo etileno e ácido abscísico.
Seca e eficiência no uso da água
Baixas doses de COR melhoram a tolerância à seca, aumentando a atividade de enzimas antioxidantes, aumentando o acúmulo de prolina e mantendo a fotossíntese (Ceylan, 2023; Zhou et al., 2018). O COR também altera a arquitetura radicular e ativa diretamente a aquaporina ZmPIP2;5 do milho, aumentando a absorção e a eficiência do uso da água em condições de irrigação deficitária (He et al., 2023).
Tolerância ao calor e ao frio
O pré-tratamento com COR estabiliza as proteínas do cloroplasto, preserva a fluorescência da clorofila (Fv/Fm) e sustenta a fotossíntese sob estresse térmico (Zhou et al., 2015). Em tomate e algodão, o COR aumenta a tolerância ao frio ao ativar genes e metabólitos responsivos ao frio (Liu et al., 2022; Li et al., 2024).
Estresse Salino
O COR alivia o estresse salino, melhorando a atividade antioxidante, o equilíbrio osmótico e a homeostase iônica. No algodão, as plantas tratadas apresentaram maior biomassa e menor dano oxidativo sob estresse por NaCl (Xie et al., 2015).
Regulação do crescimento e arquitetura da cultura
Ao ativar a sinalização JA, o COR reduz o alongamento excessivo dos brotos e realoca recursos para o crescimento das raízes. Esse efeito de "controle do crescimento" ajuda a reduzir o risco de acamamento e a melhorar a produtividade hídrica em cereais quando aplicado em baixas doses e no momento correto (Ren et al., 2013).
Validação de Campo
Testes de campo no Brasil com grandes culturas, como soja e milho, mostraram resultados encorajadores.
Soja: Em comparação com os tratamentos Blank e convencional local, o grupo tratado apenas com Coronatine (COR) apresentou crescimento vegetal mais saudável e tolerância significativamente melhorada à seca e ao estresse por altas temperaturas. A combinação de COR e outros produtos comerciais aumentou a produtividade em uma média de 4,1 sacas/ha (Figura 1). Em condições de irrigação com deficiência hídrica, o grupo tratado com COR demonstrou cobertura vegetal e altura das plantas significativamente maiores em comparação com Blank e Competitor, demonstrando sua capacidade de aumentar a tolerância à seca na soja em condições de estresse.

Figura 1 Padrão geral de crescimento da soja, dados SPAD e produtividade Ps: Data de plantio: 16/12/2024; Local: Estação de Pesquisa Juliagro em Uberlândia – MG

Figura 2 Tendência de crescimento da soja sob irrigação normal versus irrigação com deficiência hídrica Ps: Data de plantio: 30/04/2025; Local: Estação de pesquisa Juliagro em Uberlândia – MG
Milho: A coronatina promoveu a germinação e o crescimento das mudas em aproximadamente 1 estágio de crescimento em comparação aos grupos de controle, ao mesmo tempo em que aumentou significativamente a tolerância ao estresse abiótico, incluindo a resistência a inundações no estágio inicial e a resiliência à seca no estágio intermediário a final (Figura 3).

Figura 3 Tendência de crescimento do milho e desempenho do crescimento da planta após estresse por inundação Ps: Data de plantio: 05/04/2025; Local: Estação de Pesquisa Juliagro em Uberlândia – MG
Embora os resultados possam variar dependendo do ambiente e do manejo, a tendência consistente é que as culturas tratadas com coronatina sejam mais capazes de lidar com estresses abióticos, o que se traduz em rendimentos mais estáveis.
Diferenciação de ferramentas existentes
Bioestimulantes tradicionais, como extratos de algas marinhas ou aminoácidos, fornecem principalmente amplo suporte nutricional e/ou metabólico. Os PGRs químicos, embora eficazes, podem acarretar custos ambientais ou preocupações com a segurança das culturas.
A Coronatine oferece uma proposta de valor diferenciada:
– Origem natural, atividade precisa — derivada do metabolismo microbiano, mas direcionada à sinalização de estresse abiótico essencial nas plantas.
– Clareza mecanística — com interações moleculares bem documentadas.
– Sustentabilidade — reduz a dependência de insumos químicos e apoia a agricultura de baixo carbono.
Isso coloca a coronatina em uma posição única para complementar, em vez de substituir, bioestimulantes e soluções de PGR existentes.
Relevância de Mercado
O mercado global de produtos biológicos continua crescendo a taxas de dois dígitos, impulsionado pela demanda por insumos mais seguros e sustentáveis. Nesse mercado, o gerenciamento do estresse abiótico está se tornando uma fronteira estratégica. Os agricultores precisam de ferramentas que protejam a estabilidade da produtividade em condições climáticas imprevisíveis.
O Coronatine atende diretamente a essa necessidade. Ao ajudar as culturas a se manterem resilientes, ele agrega valor econômico ao nível da fazenda, ao mesmo tempo em que se alinha às metas globais de sustentabilidade.
Outlook e colaboração
A jornada da coronatina ainda está em estágio inicial, mas a trajetória é clara: ela tem o potencial de se tornar um novo padrão na regulação do crescimento de plantas para o gerenciamento do estresse.
A concretização desta visão exigirá uma colaboração contínua:
– Pesquisa: Expansão de testes em diferentes culturas, regiões geográficas e cenários de estresse.
– Estruturas regulatórias: Trabalhar com autoridades para estabelecer caminhos claros para novas soluções baseadas em plantas.
– Parcerias industriais: construindo alianças para acelerar a adoção e garantir que os agricultores tenham acesso a soluções comprovadas.
Conclusão
A coronatina representa mais do que uma nova molécula — representa um novo paradigma para uma agricultura resiliente. Ao aproveitar metabólitos naturais funcionais, podemos equipar as culturas para prosperarem mesmo em situações adversas.
À medida que a agricultura se adapta às mudanças climáticas, a coronatina oferece aos produtores uma ferramenta sustentável e com respaldo científico para proteger a produtividade e apoiar a transição global para sistemas agrícolas mais ecológicos.
Referências
Baker CM, Chitrakar R, Obulareddy N, et al. Batalhas moleculares entre plantas e bactérias patogênicas na filosfera[J]. Revista Brasileira de Pesquisa Médica e Biológica, 2010, 43: 698-704.
Ceylan H A. CORONATINA: UMA FITOTOXINA POTENCIAL PARA AUMENTAR A TOLERÂNCIA DAS PLANTAS AO ESTRESSE DA SECA[J]. Eskişehir Teknik Üniversitesi Bilim ve Teknoloji Dergisi-C Yaşam Bilimleri Ve Biyoteknoloji, 2023, 12(2): 85-93.
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Zhou Y, Liu Y, Peng C, et al. Coronatina aumenta a tolerância à seca no trigo de inverno, mantendo alto desempenho fotossintético[J]. Journal of Plant Physiology, 2018, 228: 59-65.
Zhou Y, Zhang M, Li J, et al. A fitotoxina coronatina aumenta a tolerância ao calor por meio da manutenção do desempenho fotossintético em trigo, com base em eletroforese e análise de TOF-MS [J]. Relatórios Científicos, 2015, 5(1): 13870.
